Fundos de investimento desmistificados (1/3) - Uma introdução

As actuais taxas de juro baixas ou negativas, sem fim à vista, privilegiam o consumo, já que os produtos de poupança mais convencionais não conseguem fazer crescer o património e o crédito tem um custo residual. Nestas condições, um dos investimentos com maior retorno é a educação. Apenas algumas horas a estudar investimentos alternativos aos que nos são familiares podem multiplicar o património disponível ao longo de décadas de investimento, permitindo garantir uma reforma de luxo ou antecipá-la, que será o maior luxo. Diz-se que o tempo não se compra, mas ele tem um preço.

Indiscutivelmente, a melhor forma alternativa de investimento passivo, que não obrigue o investidor a dedicar-lhe tempo, são os fundos de investimento, que não são mais do que produtos que tipicamente aglomeram acções de empresas ou obrigações de dívida, de Estados ou empresas. O retorno gerado pela carteira de investimento é depois passado ao cliente, subtraído de quaisquer custos existentes. Este é também um dos investimentos mais incompreendidos, resultado da complexidade da oferta, da iliteracia financeira e do exagero dos media. Por essa razão, partilho uma colecção de factos recolhidos após anos de estudo e utilização pessoal de fundos de investimento, organizados logicamente, justificados e contextualizados. Ninguém deveria investir em algo com que está desconfortável, mesmo que irracionalmente e a minha única expectativa é que estes factos ajudem a contrariar esse desconforto de forma imparcial.

Boas razões para investir

Partilho esta informação como gostaria que o tivessem feito comigo, com a esperança de que quaisquer retornos sejam usados para projectar um estilo de vida nelhor, seja para ter a liberdade de evitar empregos miseráveis, combater a crescente desigualdade salarial ou comprar tempo para a família. É fácil perder de vista o objectivo de investir e gerir as finanças pessoais. Da minha perspectiva, um investimento deve comprar mais qualidade de vida e não manter-me acordado durante a noite, deve permitir eliminar problemas e não multiplicá-los. Um investimento não é realmente passivo se nos agitar por dentro.

Já somos todos investidores em fundos

Embora exista um desconforto generalizado em relação a fundos de investimento, a maioria das pessoas já está exposta a eles indirectamente. O dinheiro descontado para a Segurança Social é investido em fundos para gerar os montantes necessários para as reformas, mas ao retorno obtido por esta entidade há que subtrair os enormes custos que a gigante e ineficiente máquina do Estado tem com a sua gestão. Os dados divulgados pelo estado para o período 2015-2017 indicam que a Administração Pública absorveu em média 13,6% dos impostos colectados, ligeiramente mais do que os impostos canalizados para a educação. Um PPR também não é mais do que um fundo de investimento com alguns benefícios fiscais e em geral muitos malefícios resultantes da má gestão, das comissões elevadas e da opacidade de condições.

Fundos vs. imobiliário

É difícil ver os produtos de poupança convencionais de retorno garantido, na forma de depósitos a prazo e certificados de tesouro, como investimentos. Actualmente, estes produtos têm retornos semelhantes à inflacção, que em 2018 foi de 1,0%, e portanto têm servido apenas para evitar a perda de poder de compra.

O investimento alternativo mais comum é o investimento imobiliário, que gera retornos anuais de 5-10% no caso do mercado de arrendamento. Já investir em imobiliário na perspectiva apenas da valorização a curto prazo de um imóvel é um investimento com um grau de risco elevado. Não há razão para que a longo prazo o preço dos imóveis suba mais do que a inflacção, já que o seu valor intrínseco está dependente do custo de materiais de construção e mão-de-obra. As grandes flutuações de preços que ocorrem ocasionalmente são resultado das políticas de contracção ou expansão do crédito e da euforia ou receio irracionais e generalizados, sendo portanto de curta duração. Tendo em conta que são necessários vários meses para a compra e venda de imóveis, é fácil ser apanhado do lado errado das trocas comerciais nesta vertente de investimento.

Apesar de o retorno anual histórico (a longo prazo) dos fundos de investimento ser comparável ao retorno do mercado de arrendamento, o investimento em fundos tem vantagens importantes:

> investimento 100% passivo, depois de escolhidos os fundos de acordo com a tolerância à volatilidade;

> liquidez imediata, já que em poucos minutos se podem liquidar as posições e ter o dinheiro disponível; em comparação, liquidar um imóvel demora meses;

> compatível com investimento frequente de pequenos montantes, já que uma unidade de participação tem em geral o valor de algumas dezenas de Euro.

Não é imperativo que se opte exclusivamente apenas por um destes tipos de investimento. O investimento em fundos pode ser complementar ao investimento imobiliário, por exemplo de forma a limitar o custo de oportunidade por haver montantes parados à espera de um bom negócio, que pode demorar meses ou anos a surgir, ou à espera de se acumular um montante compatível com o investimento imobiliário. Há boas razões para se investir em imobiliário, há quem retire prazer disso e há ocasionalmente boas oportunidades, em particular quando os preços caem significativamente, mas um investimento deve ser feito com o conhecimento das alternativas e apenas quando a comparação lhe for favorável.

Fundos de índice vs. fundos de gestão activa

Sendo um fundo de investimento composto por um aglomerado de acções ou obrigações, existe uma escolha inerente a cada fundo sobre que títulos incluir. Esta escolha tem impacte nos custos de gestão, uma vez que uma equipa tem que estudar, justificar e tomar essa decisão, para além de comprar ou vender os títulos na mesma proporção do crescimento ou contracção dos montantes aplicados no fundo. Esta é a definição de um fundo com gestão activa. No entanto, é conhecido que a larga maioria dos fundos de gestão activa não consegue tomar decisões que resultem num retorno maior do que o retorno do mercado num todo, isto é, do que se a decisão fosse simplesmente comprar acções de todas as empresas do mercado em que o fundo investe.

Por esta razão, John Bogle lançou na década de 1970 o primeiro fundo de índice, um fundo cuja única decisão de investimento era reproduzir na sua carteira um índice composto pelas 500 maiores empresas dos Estados Unidos, listadas de acordo com a sua valorização. Desta forma, a maioria das empresas e dos sectores da economia estavam abrangidos pelo fundo e qualquer retorno estava intimamente ligado ao desempenho da economia num todo. A garantia de que o investimento está espalhado por uma grande quantidade de empresas diminui a volatilidade associada ao investimento, uma vez que a economia num todo é menos volátil e mais previsível do que empresas ou sectores individuais. A simplicidade e transparência de um fundo de índice resulta em comissões de gestão muito inferiores às dos fundos de gestão activa e, uma vez que o retorno é em geral semelhante ou superior, o retorno efectivo que chega ao cliente é superior, sendo que a diferença não é trivial a longo prazo. Existem actualmente centenas de fundos de índice que replicam o desempenho da maioria das economias mundiais, ou mesmo do conjunto de todas as economias.

Bogle foi também o fundador da Vanguard, uma das maiores empresas de gestão de activos a nível mundial, que continua a ser conhecida pelo seu empenho em produtos que maximizem o retorno para o cliente. Esta atitude contrasta com a da generalidade dos bancos e seguradoras que sugerem produtos que maximizem os seus retornos através de comissões de gestão injustificavelmente altas.

Parte 2/3 - Retornos e volatilidade

Parte 3/3 - Concretizar o investimento

> ver arquivo de letras

< voltar a casa