Escolhemos pagar o mesmo imposto duas vezes

Como sociedade, exigimos que os impostos sejam gastos em áreas essenciais ao bem estar e desenvolvimento colectivo, mas é com frequência que gastamos o nosso capital pessoal, em dinheiro e tempo, a tornar redundantes muitos dos serviços e equipamentos que o estado implementa.

A um sistema de educação tendencialmente gratuito respondemos colocando os filhos em colégios privados, numa esperança infundada de que isso os faça vingar na mesma sociedade de que são isolados. Acumulamos em casa os mesmos livros, tantas vezes nunca lidos, que as bibliotecas têm nas estantes. As famílias coleccionam carros, ignorando o que do seu bolso sai para financiar soluções de transporte público. Temos televisão pública, com mais conteúdo do que saudavelmente deveria ser consumido, mas escolhemos pagar para ter ainda mais canais. Com um bom sistema nacional de saúde disponível, gastamos tanto dinheiro em clínicas privadas que, embora podendo atender mais rapidamente, não o fazem melhor. Havendo parques, matas e florestas para piqueniques, enfiamos amigos e conhecidos em restaurantes entregues a uma mediocridade geral em que não reparamos, por comermos demasiado depressa, os sentidos adormecidos pelo ruído. Em freguesias com espaços verdes abundantes, maravilhamo-nos com jardins e terraços de condomínios.

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