Ao olhar para trás

Sabemos cedo o que nos satisfaz. Nem 10 anos precisámos para perceber o nosso lugar, o contexto que eleva o que fazemos ao divino e a motivação natural que nunca mais encontrámos.

Ao olhar para trás, o que fazia a criança?

Já se sentia desconfortável com o desperdício, por ser tão óbvia a oportunidade de recriar e acrescentar valor a qualquer coisa. Desconfortável por ser estranhamente real, apesar de distante, a visão de um gigante feito de desperdício e um cenário apocalíptico, onde a matéria é devolvida à terra num amontoado de formas que lhe são estranhas e que não consegue transformar.

Já se sentia viver mais na Natureza em bruto, num cenário virgem onde o som tem o conforto do silêncio. O aconchego da sombra numa tarde longa de Verão. Um pacote de bolachas, um amigo ou dois, não mais.

Já sentia um entusiasmo que apenas surge com tempo para sonhar e espaço para realizar. Escrevia.

Alguns destes prazeres e vocações acabam por encontrar paralelos numa carreira, quase sempre afogados pela azáfama e usados num contexto que não deixa vestígios de orgulho. A flexibilização do trabalho salvar-nos-á, se o rendimento básico universal não o fizer.

Ao olhar para trás, na inconsciência da sua plenitude, o que fazia a criança que o adulto esqueceu pelo caminho?

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