A liberdade nos prazeres subtis

É uma das grandes ironias, que o Homem de riquezas acumuladas e por isso liberto das suas responsabilidades e dependências, dessa aura de ansiedade, possa sentir contentamento e plenitude apenas nas mesmas subtilezas que sempre lhe estiveram acessíveis. Um dia de sol. Um pequeno almoço abundante. A liberdade de criar. Uma cama partilhada, não por obrigação ou rotina.

Reconhecê-lo em tempo útil, antes que o cansaço sedimente em rugas, que a alma curve perante um esforço sem rumo, um esforço orientado para riquezas arbitrárias que permeiam o desejo por hábito, reconhecê-lo nessa altura importa.

Importa porque o liberta do fardo de perseguir essas riquezas nunca consideradas mais do que superficialmente, porque lhe permite, com toda a elegância, fazer valer os seus ideais com a certeza de que o que vale a pena desejar, todos esses prazeres subtis, se atinge com tão pouco, com um dia usado de forma honesta na profissão mais humilde. Outros prazeres vestidos de brilho, formas voluptuosas, outros confortos, talvez requeiram todo o tempo, grande parte da saúde, o sacrifício da família, talvez, certamente a liberdade.

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