Elogio à textura

Em Salonica, perante os poucos edifícios antigos que restam, e em contraste com o que os foi substituindo, alguém comenta: "parece termos perdido alguma coisa pelo caminho". Abandonámos a textura, acobardámo-nos em soluções padronizadas e superfícies perfeitas, e parecemos acordar agora para o erro que o juízo inevitável e assertivo do tempo revela.

A presença de textura satisfaz ao mesmo tempo as nossas necessidades de estabilidade, quando observada à distância e as suas nuances se perdem, e de novidade, quando suficientemente perto. A textura substitui o interesse de múltiplos objectos, com todos os benefícios que isso traz. Potenciar a textura é talvez uma das formas mais eficazes e menos óbvias de minimalismo.

A Natureza e o tempo são mestres a criar textura. Nunca um jardim ou uma paisagem projectada serão mais interessantes do que a aleatoriedade de um bosque denso, ou de um planalto vazio. O mais pequeno pedaço de madeira terá sempre mais interesse do que qualquer superfície sintetizada. Como superar a débil patina depositava pelo tempo?

A textura permite que um espaço vazio seja acolhedor e que uma página vazia, à excepção de três versos, transmita plenitude. Foi a textura a trazer para as ruas a ganga criada para um ambiente industrial.

Mas mais do que isso, num mundo homogéneo e apressado existe uma quase obrigação moral para trazer de volta a textura. Ela convida a parar e contemplar.

> ver arquivo de letras

< voltar a casa